Diário de Bordo

Entre Frustrações e Esperança na Estrada

Terça 22/04

Hoje o dia começou com uma notícia que nos deixou bem chateados… Acordamos com a mensagem oficial do Beto Carrero informando que não fecharão parceria com a gente. Ficamos tristes, claro, porque seria um lugar incrível pra mostrar aqui no projeto, mas nem tudo está sob nosso controle.

Fizemos uma postagem no Instagram explicando a situação e avisando que, infelizmente, não teremos conteúdo sobre o parque. Por enquanto, seguimos aqui no camping, pensando e organizando quando será nosso próximo trecho de estrada.

Mas à noite, recebemos uma mensagem que reacendeu nossa esperança: o José, nosso seguidor querido e parceiro do @‌clube_trailer, entrou em contato pedindo pra gente aguardar mais um pouco. Ele está tentando nos ajudar de alguma forma para que possamos ir até o Beto Carrero. Então, vamos esperar e ver o que acontece, né?

A estrada ensina que tudo tem seu tempo. Vamos com calma e fé no caminho.

Quarta 23/04

Hoje recebemos uma notícia que encheu nossos corações de alegria! O José, nosso seguidor querido e parceiro do @‌clube_trailer, nos mandou uma mensagem emocionante: amanhã iremos ao Beto Carrero, graças ao Clube Trailer, que tem como missão realizar sonhos – e está realizando um dos nossos!

Estamos tão felizes que resolvemos sair para dar um passeio pela cidade, mesmo de cadeira de rodas, para ver como anda a acessibilidade. Encontramos alguns pontos que ainda precisam ser melhorados, mas, no geral, conseguimos circular e aproveitar o momento.

De volta ao nosso cantinho, comemos alguma coisa e logo o John pegou no sono. Eu ainda demorei um pouco, a ansiedade está a mil – afinal, amanhã é um daqueles dias que a gente vai guardar pra sempre na memória. Mas preciso dormir, porque o Beto Carrero nos espera!

Seja você também um sócio do Clube Trailer e ajude a transformar sonhos em realidade, assim como estão fazendo com o nosso.

Decepções no Beto Carrero

Quinta 24/04

Hoje acordamos animados para viver um dos dias mais esperados da viagem: conhecer o Beto Carrero World. Fomos com nossas cadeiras de rodas até o parque, enfrentando um trajeto extremamente ruim – cheio de buracos, desníveis, terra solta e sem qualquer estrutura mínima de acessibilidade. Ainda assim, chegamos com o coração cheio de expectativa e alegria.

Temos passaportes com o objetivo de aproveitar toda a estrutura e os brinquedos que o parque oferece. Mas, para a nossa profunda tristeza, não conseguimos usufruir de absolutamente nada.

Somos cadeirantes, sim, mas independentes. Não temos acompanhantes porque, na maioria dos lugares, conseguimos aproveitar os espaços por conta própria – desde que esses espaços sejam verdadeiramente acessíveis. Não fazemos milagres: somos independentes, mas não conseguimos simplesmente levantar da cadeira e sair andando. Esperar isso de uma pessoa com deficiência é cruel e desrespeitoso.

Sthéfanie, como todos sabem, ama adrenalina. Animada, foi direto para o primeiro brinquedo. Mas logo ali começou a decepção: fomos orientados a utilizar apenas brinquedos infantis, como se nossa deficiência definisse nossa idade ou nossas vontades. Isso é capacitismo puro.

Em uma das atrações, já sentada no brinquedo, Sthefanie apenas pediu ajuda para ajustar sua posição. A resposta da monitora foi: “você vai ter que se virar sozinha”. Em outra, mesmo já no banco do brinquedo (com ajuda de uma pessoa para subir), a funcionária informou que ela teria que descer, deixar a cadeira na entrada e ir andando até o brinquedo. Como se a deficiência fosse opcional.

A sinalização do parque afirma que cadeirantes podem utilizar os brinquedos, mas em nenhum momento fica claro que seria necessário “ter fé” e sair andando. A falta de preparo dos funcionários para lidar com pessoas com deficiência é gritante. O que vivemos hoje foi doloroso: olhares de nojo, de desprezo, e a total ausência de empatia e acolhimento.

Não aproveitamos absolutamente nada. Em vez disso, passamos por situações humilhantes e constrangedoras. Queremos saber: o parque irá reembolsar nosso seguidor que gastou R$ 350,00 para nos proporcionar essa experiência? Uma experiência que se transformou em um dia de frustração e discriminação.

Cadeirantes também são seres humanos. Temos direito de aproveitar a vida. Não precisamos de acompanhantes – precisamos apenas de pessoas humildes, preparadas, com empatia e bom senso.

Somos viajantes. Saímos de Brasília e moramos dentro do nosso carro, rodando o país e mostrando a acessibilidade e o atendimento por onde passamos. O Beto Carrero precisa melhorar – e muito. A começar pelo atendimento e pela falta de piso tátil no parque. E, principalmente, no acesso: chegar até vocês é, por si só, um desafio para qualquer pessoa com mobilidade reduzida.

A acessibilidade não é favor. É direito.

Depois de todo esse constrangimento, o máximo que conseguimos foi tirar algumas fotos com personagens do parque. E, com o psicológico completamente abalado, não tivemos condições nem de assistir aos shows. Voltamos para o camping, frustrados e profundamente tristes.

Sexta 25/04

Depois dos acontecimentos de ontem, acordamos decididos: era hora de pegar estrada. Já havíamos explorado tudo o que queríamos aqui em Penha. Nos despedimos com carinho da Raquel e do Fábio, anfitriões do Camping e Cabanas do Tonho — lugar que, aliás, super recomendamos tanto pela estrutura quanto pelo acolhimento.

Seguimos rumo a Blumenau, uma cidade linda, mas dessa vez só passeamos de carro mesmo, sem descer. Em seguida, fomos para Pomerode, conhecida como a cidade mais alemã do Brasil. E que charme de cidade! Com suas ruas floridas, construções enxaimel e aquele clima europeu no ar, foi impossível não se encantar.

Foi em Pomerode que conhecemos a Rosane, uma estudante de arquitetura muito simpática. Ela nos abordou na rua ao perceber algumas dificuldades de acessibilidade pelo local e, gentilmente, perguntou se precisávamos de ajuda. Conversamos um pouco, trocamos experiências e depois nos despedimos, levando boas lembranças desse encontro inesperado.

O friozinho começou a aparecer e, para completar o clima gostoso, decidimos experimentar o famoso chocolate quente cremoso em uma vila gastronômica super charmosa que encontramos. Estava simplesmente delicioso!

Tentamos encontrar um lugar para dormir em Pomerode, mas não tivemos sucesso. Então, seguimos viagem para Balneário Camboriú. E que surpresa! A cidade, famosa pelos seus arranha-céus gigantes e por ser uma das mais caras do Brasil, nos deixou impressionados logo de cara.

De longe, já avistamos o icônico prédio do “Véio da Havan” e a sua casa, a única construção que resiste na orla rodeada por gigantes de concreto — um contraste surreal.

Para facilitar nosso passeio, deixamos a “Mariposa” (nosso carro) em um camping localizado na Barra, bairro vizinho a Balneário. De lá, utilizamos o famoso Elevador da Barra, uma estrutura que liga a Barra Sul à praia principal, atravessando o morro de forma prática e acessível. Uma experiência diferente e muito bacana!

Rodamos muitos quilômetros pela orla de Balneário Camboriú, admirando toda aquela imponência, e depois voltamos para o camping, cansados, mas felizes com mais um dia cheio de histórias para contar.

Sábado 26/04

Depois de uma noite bem dormida no camping, acordamos dispostos para seguir viagem, mas infelizmente o dia começou com uma grande decepção. Na hora de irmos embora, fomos informados de que o banheiro acessível (PCD) estava desativado porque, segundo a pessoa que nos atendeu, “a cada 1000 pessoas apenas 1 é PCD”, e por isso transformaram o espaço em um depósito. Essa justificativa nos magoou profundamente — é triste ver que, por falta de empatia e compreensão, ainda existem lugares que ignoram a importância da acessibilidade. Mesmo sem poder tomar banho ou usar o banheiro, fomos cobrados normalmente.

Apesar do transtorno, decidimos seguir em frente e aproveitar o dia conhecendo Balneário Camboriú. Passamos por um estabelecimento, mas infelizmente também não era acessível. Seguimos explorando o que dava, tentando fazer o melhor com o que tínhamos.

No fim do passeio, pegamos a estrada rumo a Florianópolis. Assim que chegamos, começamos a procurar um lugar para passar a noite e encontramos uma Havan, mas ainda estávamos em dúvida se seria o local ideal. Decidimos então dar uma volta até Jurerê Internacional. A região é bonita, mas tudo por lá é muito caro — lembra bastante os preços de Balneário.

Conseguimos visitar uma praia, curtimos um pouco o visual e, mais tarde, retornamos para Florianópolis. No fim das contas, optamos por dormir em um posto de gasolina. Um fim de dia simples, depois de tantos altos e baixos, mas com a certeza de que seguimos firmes, mesmo diante dos desafios.
Ah!! Esqueci de falar, a cadeira de rodas do John quebrou no meio da rua, com isso tivemos que procurar um bicicletário para ver se teria como arrumar.

Até a próxima,
Equipe Rodinhas pelo Mundo